9.11.13

Poemas

A Leitora

A leitora abre o espaço num sopro subtil.
Lê na violência e no espanto da brancura.
Principia apaixonada, de surpresa em surpresa.
Ilumina e inunda e dissemina de arco em arco.
Ela fala as pedras do livro, com as sílabas da sombra.

Ela adere à matéria porosa, à madeira do vento.
Desce pelos bosques como uma menina descalça.
Aproxima-se das praias onde o corpo se eleva em chama de água.
Na imaculada superfície ou na espessura latejante,
despe-se as formas, branca no ar.

É um torvelinho harmonioso, um pássaro suspenso.
A terra ergue-se inteira na sede obscura de palavras verticais.
A água move-se até ao seu princípio puro.
O poema é um arbusto que não cessa de tremer.

António Victor Ramos Rosa, poeta Português

Poema disponível AQUI.